sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Individualidade Perdida



A xilogravura Urubus e Pescadores, de Oswaldo Goeldi realizada em 1940, está presente na exposição do artista Luz Noturna, no Centro Cultural da Caixa Conjunto Nacional. A mostra apresenta gravuras que diferem das demais obras do artista pelo uso maior da cor, mas mantém-se fiel à sua temática: pescadores, aves e peixes que caminham para uma imagem mais ligada ao simbolismo do que ao expressionismo.

Na imagem, encontramos um fundo em verde oliva com traços e linhas em cor bege que proporcionam perspectiva à cena devido ao seu posicionamento e espessura dos traços. No centro, duas figuras: pescadores com seus chapéus na cabeça, mas sem traços nos rostos. Figuras humanas sem individualidade. A cor bege serve para delinear as formas e os volumes das roupas dos pescadores que têm seus corpos construídos na cor preta. Ambos seguram juntos o que aparenta ser uma rede de pesca ou talvez uma vela de barco. No primeiro plano, à esquerda, um urubu delineado por linhas bege. Ele está com suas asas abertas, parecendo ter sido retratado no momento de pouso. Sob o urubu, um balde de madeira negro com traços e linhas em bege onde a ave está pousando. Tanto a ave quanto o balde estão em um posicionamento que lhes confere um tamanho maior que o dos pescadores no centro da gravura.

À direita da gravura está posta parte de uma mesa em diagonal. Sobre ela encontra-se um peixe vermelho do qual é possível perceber o rabo e parte de corpo, devido ao enquadramento dado pelo artista. Assim como o urubu, a imagem do peixe sobrepuja dos pescadores, tanto por seu tamanho quanto pela possibilidade de identificação e qualificação dessas figuras. Goeldi propõe ao observador realizar diálogos entre as figuras colocadas nas gravuras e as relações entre as questões pictóricas da imagem e as simbólicas.